Para Noah e Matteo
Dia desses, enquanto colocava meus filhos para dormir, comecei a me questionar sobre a nossa escolha. Quando foi que nós nos escolhemos?
Carrego uma crença de que as almas se escolhem, antes de encarnarem os personagens deste plano. Eu não tenho uma opinião claramente formada sobre vidas passadas, futuras ou paralelas. Mas, na teoria do “acordo das almas”, isso pouco importa. Crer que houve um acordo que deu suporte à nossa escolha de estarmos próximos nesta vida me leva a investigar o que eles vieram me ensinar. E isso já faz minha maluquice valer.
É claro que filhos ensinam lições incontáveis aos pais – com ou sem acordo espiritual. Porém, quando tento ganhar clareza sobre o que minha alma pode ter pedido de ajuda a eles, naturalmente vou além dos ensinamentos óbvios de uma relação mãe e filho e investigo as peculiaridades da nossa relação de forma mais profunda.
Que todas as mães aprendem com os filhos, eu sei. Mas a forma como engravidei, o fato de serem gêmeos, as dificuldades emocionais que enfrentei, as maravilhas com as quais a vida nos abençoou, as personalidades que são discrepantes na mesma proporção em que o físico dos dois se assemelha e uma série de outros detalhes tão pequenos de nós três fazem com que exista, neste nosso contexto, um tipo de aprendizado disponível que talvez seja só nosso.
Comecei a pensar que eles vieram para me ensinar a me amar, apesar de todos os pesares.
São eles que conhecem todas as minhas camadas mais profundas e que na última década acompanharam todos os meus dias de euforia e meus momentos de coração sangrando. São eles que já experimentaram todo o meu potencial amoroso, mas também todas as manifestações dos meus mais graves desequilíbrios. Ninguém conviveu tão de perto com minhas transformações, tão intensas. Ninguém é tão impactado pela flutuação dos meus humores nem pelos meus medos e dores.
E, ainda assim, estão sempre ali, com os olhinhos brilhantes, com a gargalhada preparada para receber uma crise de cócegas ou com o abraço a postos para limpar minhas lágrimas.
Se antes era eu quem oferecia o colo, hoje é uma troca. Às vezes eu os acolho, e outras tantas eles me acalmam. Sabem simplificar minhas confusões e acalmar minhas emoções.
Sabem me fazer encontrar saídas leves, mesmo para os problemas mais pesados.
Eles me trazem a constante sensação de que, se pudessem refazer o acordo e me escolher de novo, o fariam. E, se existir renovação desse acordo, eu o quero por todas as próximas vidas.
Porque, no fundo, eles despertam o melhor em mim sem deixar de espelhar meus cantos escuros. E esta, para mim, é a forma de amor mais genuína. Aquela em que as partes conseguem conhecer todo o nosso conteúdo, conseguem nos mostrar com franqueza e clareza nossas falhas e, conseguem, amorosamente, nos impulsionar a corrigi-las.
Eu já usei muito essa teoria do acordo das almas para ressignificar relações desafiadoras e entender qual era a cura disponível por trás de alguns contextos desafiadores. E recomendo.
Mas nada me tocou e preencheu tanto quanto a sensação de investigar de forma profunda a maior de todas as conexões e o maior de todos os amores que já senti.
É tudo por vocês e para vocês. Obrigada por me escolherem. Eu os escolho por esta e por todas as outras vidas.