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Carol Rache

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Meditação para quem não sabe meditar

Quando pensamos em meditação, a maioria de nós visualiza uma pessoa sentada na posição de lótus, coluna ereta, um símbolo místico pintado no espaço entre as sobrancelhas, feição leve e um corpo que quase flutua.

Essa imagem pode ser linda para os livros orientais, mas é bem distante da vida real. Nem as pernas tão bem cruzadas, nem a coluna tão alinhada, menos ainda a iminente flutuação parecem acessíveis.

Não é de se espantar que a maioria das pessoas acredite não ter nascido para essa prática. De fato, o senso comum coloca a meditação como algo distante da nossa mente humana e agitada. Parece, mesmo, uma prática adequada aos monges do Tibet, mas não aos seres ocidentais que carregam um smartphone em uma mão e um filho na outra.

A boa notícia é que esses conceitos são fantasiosos e que meditação não é coisa de gente “zen”. É ferramenta para mentes agitadas e remédio para emoções conturbadas.

Meditação pode ser simples, desde que você deixe os conceitos pré-formados de lado e aposente as expectativas de iluminação instantânea. Considere a meditação um treino para ganhar clareza, presença e serenidade.

“Ok, mas como treinar, se não sei meditar?”

Imagine-se num estado de caos. Pense em um momento desafiador e considere este o seu ponto de partida. A linha de chegada é o seu estado mais equilibrado. A mente humana geralmente demora muito para fazer essa travessia.

A meditação é a ferramenta que acelera o trajeto. É uma bike elétrica que te leva mais rápido do seu estado caótico à sua versão mais presente. Mas, se você nunca subiu numa bike, é claro que vai precisar treinar.

Por isso insisto em dizer que é treino. Entre o ponto de partida e o de chegada existe uma floresta densa, a ser desbravada. Na primeira vez que você se propõe a explorar, a mata é muito fechada, os obstáculos parecem maiores do que de fato são, o medo te deixa tenso, e a bike te derruba muitas vezes pelo caminho. Agora imagine-se repetindo esse mesmo caminho dia após dia. O que é provável que aconteça

Naturalmente, uma trilha começa a se formar. Os obstáculos vão sendo removidos, e aquilo que antes amedrontava se torna um caminho conhecido. Quanto mais você repete o percurso, mais domínio tem sobre o caminho. A bike começa a ser sua grande aliada, e os tropeços existem, mas são cada vez mais contornáveis.

A floresta densa é sua mente. A bike é a meditação. E entre seu estado perturbado e sua versão alinhada existe uma trilha a ser estabelecida. Quanto mais você explora, mais familiar o percurso se torna. Em outras palavras: quanto mais treina a meditação, mais rápido começa a ser o retorno ao seu eixo.

Não é razoável desejar que a vida não apresente desafios. Não é sobre rezar para nunca sair do eixo, mas treinar para saber voltar a ele, sempre que precisar.

E, para isso, você só precisa se sentar numa posição confortável e convidar sua mente para o momento presente. Sem dogmas, sem complicações, sem resistências.

Existem diversas abordagens para a meditação, cujas explicações não caberiam nem em uma página inteira de jornal. Hoje, vou sugerir a que considero mais simples e acessível: a respiração.

A respiração está sempre no momento presente. Focar o ato de inspirar e expirar é o convite mais incisivo para que sua mente se concentre no agora. Isso trará autopercepção, clareza e expansão de consciência. Nem sempre será prazeroso, mas, voltando à metáfora da bike, cair e machucar faz parte do processo, né? Quando isso acontece, não é porque não nascemos para andar de bike, mas apenas porque precisamos de mais prática.

Meditação é um compromisso entre você e sua versão alinhada. É um treino que te leva de volta à sua verdade. É um presente que você se dá e que te devolve com benefícios multiplicados.

Se você acredita que não sabe meditar, eu te conforto: eu sei, mas até hoje não aprendi a dirigir (seria pilotar) uma bicicleta. O que me falta? Treino. O que te falta? O mesmo. Apenas comece.