O primeiro passo para acender a nossa luz:
Aceitar a vida como ela é, inconstante.
Aceita a nos mesmos como somos, imperfeitos.
Quando algo na nossa vida entra em colapso ou se desintegra, buscamos ansiosamente nos agarrar em alguma solução, ou algum tipo de alívio. Qualquer coisa que amenize e aniquile a dor, o incômodo e a frustração, é bem vinda.
Temos o hábito de perceber as perdas e mudanças apresentadas pela vida como uma espécie de teste, em que o desafio consiste em superar o problema, e voltar ao um estado emocional positivo. Mas a verdade é as situações não têm uma solução definitiva.
Elas se compõem e se desmoronam, infinitas vezes. E sempre será assim.
O processo de cura começa quando finalmente aceitamos essa impermanência, e abrimos espaço para que tudo aconteça:
o pesar, a dor, a raiva, a alegria, as conquistas, as perdas, a angústia e o alívio.
O caminho do desenvolvimento pessoal não tem nada a ver com chegar no paraíso, ou em conquistar uma vida perfeita. Na verdade, é a ilusão de procurar um prazer duradouro e poder para sempre evitar a dor.
As emoções negativas são inevitáveis para nós, humanos. Enquanto acreditamos que podemos contar com a permanência das coisas, para satisfazer nossa ânsia por segurança, ou que é possível alcançar um estado de evolução que vai nos blindar de sentir dor, estaremos sofrendo. Simplesmente porque a vida vida é instável, e assim também são nossas emoções – flutuantes.
Muitas vezes precisamos ser submetidos à situações de total falta de chão, onde todos nossos esforços para consertar as coisas do lado de fora são em vão para, finalmente, compreender que o que precisa mudar não é o mundo, mas sim nossa maneira de olhar para o mundo.
É preciso trocar as lentes, e mudar o nosso “eu”.
Nosso “eu” apegado, imaturo, iludido. Nosso “eu” que busca incansavelmente pela felicidade no futuro, pelo dia em que a vida será perfeita, e que não teremos mais flutuações, desafios e frustrações. Esse dia não vai chegar.
Repito: O caminho espiritual não consiste em buscar pela felicidade constante, ou desenhar uma vida 100% perfeita e equilibrada. Esse é o caminho da ilusão, é o objetivo inatingível que nos faz crer que sempre falta algo para ser consertado.
Não é sobre chegar, é sobre a caminhada. É sobre aprender a relaxar na incerteza, aprender a respirar no meio do caos, aprender a não entrar em pânico no desequilíbrio.
Tudo depende da forma como percebemos a vida. Podemos nos revoltar, como crianças, diante da impermanência da vida. Ou podemos usar a impermanência como aprendizado constante. A vida é uma boa professora e amiga. Tudo está sempre em transição.
Para acender a nossa luz, o primeiro passo é praticar aceitação.
Aceitar as flutuações da vida, e buscar compreender que estaremos sempre subindo e descendo no espiral.
Aceitar, também, a nossa condição humana. Somos imperfeitos, e podemos nos amar assim mesmo. Podemos desenvolver a habilidade de nos perceber sem filtros, sem máscaras, observando a luz e também a sombra, que mora dentro de nós.
Reconhecer o amor, a paz e a bondade que carregamos do lado de dentro, mas sem ignorar a agressividade, a raiva e a dor que nos atormenta. Uma visão clara, realista e compassiva de nós mesmos. Sem auto julgamento, sem vergonha, com suavidade e compaixão – esse é o caminho.
Quando nos tornamos conscientes da nossa própria desordem interna, quando fazemos o compromisso com a honestidade no que diz respeito à nós mesmos, começamos a ser mais tolerantes com a desordem das outras pessoas. É impossível aceitar o outro como ele é quando estamos presos no hábito de julgar.
Ora, se somos imperfeitos, e se reconhecemos isso com humildade, compreendemos melhor a imperfeição alheia.
No fundo, toda vez que temos um comportamento agressivo, impaciente, vitimizado, intolerante, maldoso ou manipulador (e a mágoa muitas vezes é um ótimo disfarce para a manipulação), é porque há algo em nós que ainda precisa ser iluminado. Alguma dor, algum medo, alguma insegurança. E, na dificuldade de reconhecer isso em nós, atacamos aos outros.
A verdade é que tudo que nos incomoda nos outros precisa ser corrigido em nós mesmos.
“Qual parte DE MIM está incomodada com o outro?”
Essa é, sempre, a pergunta fundamental.
Nosso modo de lidar com a vida é determinante na qualidade da vida que criamos, para nós mesmos.
De modo geral, encaramos qualquer desconforto como uma má notícia. Entretanto, quando estamos buscando acender nossa luz, sentimentos como decepção, ciúme, raiva e medo, podem ser percebidos como indicadores das nossas sombras.
Quando essas emoções surgem, elas apontam alguma parte de nós que ainda está presa no ego, na ilusão, no egoísmo, na infantilidade.
Quando tomamos consciência disso, podemos, portanto, agradecer às situações que despertam nossas sombras, porque são como mensageiros que revelam, com assustadora clareza, onde estamos presos.
Neste vídeo AQUI também falo sobre encontrar o equilíbrio na dualidade entre luz e sombra, afinal sombra é apenas a ausência de luz.