O problema foi acreditar que, para caminhar nessa estrada, eu precisaria deixar de ser quem eu era e me tornar um personagem.
Eu me lembro com muita clareza da época em que colecionava japamalas, cordões sagrados feitos de contas, usados para a prática de meditação. Poucas vezes eu de fato me sentei para meditar usando esse acessório, porque sempre preferi outros tipos de práticas meditativas. Mas, ainda assim, usava e colecionava.
No fundo, eu acreditava que o japamala era um símbolo que comunicava ao mundo quem eu era. Um erro. Eu mal sabia que aquilo que eu queria comunicar nascia, na verdade, do que eu entendia ser a expectativa que as pessoas tinham sobre mim.
Eu me aproximei do yoga num momento em que precisava me agarrar a algo que me trouxesse de volta para o meu eixo. E funcionou. Ganhei clareza sobre várias camadas minhas que andavam escondidas e consegui finalmente encontrar um caminho de busca que fazia muito sentido porque me trazia saúde física, mental, emocional e, de bônus, ainda expandia minha consciência espiritual. Parecia bom demais para ser verdade. Mas era bom demais, e era verdade.
O problema foi acreditar que, para caminhar nessa estrada, eu precisaria deixar de ser quem eu era e me tornar um personagem. Eu estava tão interessada em honrar o que o yoga havia feito por mim, que caí na bobagem de tentar me tornar o perfeito estereótipo de uma praticante de yoga.
Aposentei os sapatos de salto, coloquei minhas bolsas num bazar e troquei os brincos de pérolas por japamalas. Abandonei o vinho, me proibi de fazer as unhas e comecei a me julgar por gostar de sertanejo. Minhas playlists eram todas “good vibes” e mantras. Durou pouco. Ufa! Que bom que não consegui sustentar essa mentira.
O que eu estava buscando provar, e para quem? Será mesmo que deixar de pintar as unhas me tornava uma pessoa mais evoluída? Será que a evolução se dá como passe de mágica quando maquiamos nossa imagem?
No fundo, acredito que estamos todos sedentos por esse tipo de mentira. Preferimos ser enganados por figurinos bem-montados a nos aprofundar na verdadeira essência dos personagens. E assim compramos mentiras bem-contadas e julgamos verdades humanizadas.
Eu comprei toda cobrança e histórias que me foram apresentadas para me convencer de que minha essência era errada. Por um tempo, acreditei que as pantalonas elevariam minha alma sem perceber que, na verdade, elas só alimentavam meu ego.
O ego é sagaz. Usa de estratégias muitas vezes consideradas nobres para buscar aprovação, aplausos e aceitação. Mas de que adianta, no fim do dia, atuar como manda o figurino e não se reconhecer quando as roupas caem no chão?
Felizmente, eu não culpei o yoga. Sei que foi minha sede imatura por qualquer dogma ao qual pudesse me agarrar que me roubou de mim. Não foi o yoga. Eu é que não tinha autonomia nem autoestima para me escutar e, por isso, busquei, do lado de fora, um manual de condutas que me dissesse o que eu poderia e não poderia ser.
O yoga, contudo, no dia a dia, foi espelhando para mim mais essa distorção e me ensinando o caminho de volta para a casa. O yoga me mostrou o sentido mais puro de espiritualidade, que dispensa julgamentos e nos pede coragem para seguir nossa própria intuição.
Se o yoga me roubou de mim, foi porque eu distorci o entendimento dessa prática. Mas a eficiência dela como ferramenta de autoconhecimento é tão incontestável que, mesmo diante de toda a minha confusão, me relembrou com gentileza o que vim fazer aqui: aprender a ser eu mesma.