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Carol Rache

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Não é difícil para um praticante de yoga descrever os benefícios que essa prática traz, em diferentes aspectos: corpo, mente, energia e alma. É sabido que o yoga vai além da prática física, e acaba se tornando um estilo de vida, que nos aproxima da nossa mais pura essência.

No entanto, hoje vou falar justamente sobre os aprendizados que a prática física trouxe para a minha vida fora do tapete. Se engana quem pensa que os movimentos são apenas posturas. Frequentemente os ásanas trazem à tona aspectos da nossa personalidade que refletem a nossa forma de atuar perante os desafios da vida. E, por isso, podem ser usados como uma poderosa ferramenta de auto-observação.

A lista não está feita em ordem de importância, mas sim na ordem que fui integrando e tomando consciência desses aprendizados.

O primeiro deles, diz respeito ao ego.

 

  1. “Nada pode nos machucar, além do nosso próprio ego.”

 

Quando comecei a praticar yoga com mais consistência, eu percebia em mim uma ansiedade enorme para fechar as posturas. Eu estabelecia uma postura que achava bonita ou que me desafiasse, e focava nela com muita energia. Muitas vezes, no entanto, meu corpo ainda não estava preparado para a postura, ou eu não estava de fato mirando nos benefícios dela, mas apenas do resultado de conseguir fechar.

O ego, sedento por mais uma conquista, mais um desafio e mais uma postura, me trazia uma pressa que roubava o real propósito da prática. E assim a postura se tornava o objetivo fim, e não o caminho.

Hoje, um pouco mais madura, mas ainda com muito a aprender, eu percebo que as posturas são um caminho para que possamos construir uma série de qualidades e virtudes. Percebo que enquanto eu estiver identificada com o ego, e com a sede pelo resultado final, eu corro um enorme risco de me machucar.

E o curioso é que assim também é na vida. Quantas vezes nós focamos num objetivo que vai agradar ao nosso ego, e nos esquecemos do real propósito da ação?

Quantas vezes buscamos caminhos para nos elevar, mas fazemos isso buscando aplauso, reconhecimento, ou retorno financeiro? E assim nos desconectados do sentido maior que aquilo tem. Se a nossa intenção vier do ego, o Universo vai responder trazendo dor. Porque enquanto há identificação com o ego, há apego. E apego gera dor.

Apego à prática física do yoga, também gera dor. Porque se o propósito maior fica esquecido, focamos apenas no resultado, e assim nos colocamos em posturas que podem nos machucar. Na vida, acontece isso também:

Quantas vezes, por apego, nos colocamos em situações que nos machucam?

Como evitar que isso aconteça?

Na nossa condição humana, todos temos identificação com o ego. Quem acha que não tem deve se observar com cuidado redobrado, porque corre um grande risco de estar preso no autoengano. Mas, tendo consciência disso, nós podemos nos colocar na posição de expectadores de nós mesmos, e observar os padrões repetitivos que surgem, quando colocamos o ego no comando. Tomar consciência de uma sombra é o primeiro passo para transforma-la.

Tansformar padrões é um processo, assim como fechar posturas. Um processo lento, que exige muito comprometimento e consistência. Um processo que exige disciplina.

E esse é o segundo aprendizado que o Yoga me trouxe:

  1. O crescimento é construído pouco a pouco, com consistência e disciplina.

 

Quando eu digo que a prática de yoga exige disciplina, muitas vezes vejo as pessoas torcendo o nariz ou arregalando os olhos. Porque, para muitos, o conceito de disciplina traz a ideia de rigidez. Para mim, disciplina é aquilo que me faz discípulo dos meus próprios objetivos. E tem muito mais a ver com consistência, do que com rigidez.

No yoga, a mente e a respiração vão sendo trabalhados pouco a pouco, e gerando todo tipo de expansão – física, energética, espiritual e mental.

Não há como superar uma limitação física da noite para o dia, mas se você se dedicar à prática com energia, entrega e intenção, aos poucos começa a perceber o corpo abrindo de uma forma que antes você nem imaginava ser possível. Isso também acontece com os padrões mentais e emocionais que vão sendo lapidados, pouco a pouco, quando afinamos o nosso contato com essa prática.

E esse é mais um ponto que podemos estender do tapete para a vida:

Nenhuma transformação se faz com extremos. Precisamos construir o caminho, passo a passo, se quisermos ter alguma mudança consistente. Não há como pular etapas. Assim como o corpo vai cedendo, milimetricamente, até que o resultado se torne perceptível, as transformações que buscamos para a nossa vida também acontecem assim.

É comum as pessoas se sentirem motivadas a iniciar um processo de transformação – seja ele para transformar a vida profissional, afetiva, para transformar hábitos de saúde – e depois de colocarem muita energia no início, começam a se desanimar durante o processo, e desistem.

Por que?

Porque falta à elas a consciência de saber que tudo é construído. Tijolo por tijolo, dia após dia. Sem essa noção, quando iniciamos a caminhada e percebemos que ainda faltam muitos quilômetros para a linha de chegada, perdemos força. Sem essa consciência corremos o risco de nos tornarmos pessoas rígidas, que vão de um extremo ou outro, o tempo todo, porque não sabem curtir a caminhada, e saber que ela é cheia de tropeços.

Foque no progresso, mas preencha-se com o processo.

Quando focamos só no resultado final, esquecemos de apreciar o processo. E assim, o desanimo chega antes do progresso. É preciso construir uma transformação com metas possíveis, flexíveis, e com um caminho que te preencha. Crescer demanda energia, traz desafios e exige muito comprometimento.

Muitas vezes as pessoas me perguntam: Uma vez por semana de Yoga é suficiente?

E eu respondo: com seis dias de intervalo é provável que você esteja sempre recomeçando. É melhor do que não praticar? Certamente! Mas quando mais consistência e disciplina houver na sua prática, mais resultados você vai perceber. E assim também é na vida.

A terceira coisa que o yoga me ensinou é que a vida é o equilíbrio entre agir, e se entregar.

  1. Achar o equilíbrio entre agir se entregar.

O equilíbrio entre sair da zona de conforto, e respeitar nossas limitações. De novo pegando a prática física como ponto de partida, é importante saber que o nosso corpo sempre pode ir um pouco mais do que a mente acredita. E por isso devemos sempre colocar ação de expansão, na prática, saindo da nossa zona de conforto. No entanto, precisamos afinar a escuta para saber o que o nosso corpo está comunicando, e quando é a hora de deixar a ação de lado, e se entregar à postura.

Na vida, é fácil perceber que muitas vezes colocamos energia na ação, mas não trabalhamos a entrega. Fazemos a nossa parte, mas não permitimos que o Universo faça a dele. Não aceitamos o que nos é proposto, e tentamos forçar situações para além do que o nosso limite permite.

Quando aprendemos a afinar a escuta do nosso corpo, naturalmente vamos crescendo a nossa capacidade de afinar à escuta ao que o Universo nos diz. E assim vamos construindo o equilíbrio entre a ação e a entrega, e nos alinhando com o fluxo da energia vital.

É muito pouco provável que os nossos planos sejam melhores do que o da divindade.

Mas a capacidade de entrega exige um trabalho constante de humildade e desapego, e por isso costuma ser tão desafiador. Preferimos crer que sabemos o que é melhor para o nosso crescimento, do que confiar numa sabedoria maior. E isso leva ao quarto ensinamento que o yoga me trouxe:

Saber que nunca estamos prontos.

  1. Nunca estamos prontos, há sempre mais para lapidar e aprender. O processo é para sempre.

 

Podemos fechar uma série, podemos dominar uma postura, mas a verdade é que sempre vai haver mais espaço a ser conquistado, mais alinhamento a ser trabalhado, mais um passo a ser dado. Nós nunca estamos prontos, e o processo é infinito.

Quando começamos a buscar o nosso desenvolvimento pessoal, buscamos práticas que nos ajudem a crescer a nossa luz. Buscamos nos conectar com o melhor que há em nós, e assim reconhecemos aspectos luminosos da nossa personalidade que antes eram desconhecidos.

A grande armadilha aí é que corremos o risco de empurrar todas as nossas sombras para debaixo do tapete, porque é mais confortável lidar com a nossa luz. Ai sentamos em cima desse mesmo tapete, e meditamos, visualizamos os aspectos mais belos da nossa alma. Mas isso nos deixa sempre presos. No autoengano, e na inércia. Se não reconhecemos nossas limitações, não temos o que trabalhar e assim deixamos de crescer.

Assim como sempre vai haver aperfeiçoamento para ser incorporado na prática do yoga, vai sempre haver aspectos na nossa vida no quais precisamos evoluir.

Quando acreditamos que estamos prontos, que estamos avançados, e que estamos iluminados, é quando nos desconectamos do real sentido de encontrar a nossa luz, que é iluminar as nossas sombras.

Estamos aqui para nos curar, mas frequentemente focamos mais em levar cura ao outro.

  1. Não posso fazer pelos outros o que ainda não integrei em mim.

O último ensinamento que o Yoga me trouxe – e é claro que eu poderia fazer uma lista infinita, mas escolhi aqueles que tiveram mais impacto no meu processo pessoal, para compartilhar com vocês – é a consciência de que eu não posso fazer pelos outros aquilo que ainda não fiz por mim. Não posso ensinar algo que ainda não integrei.

Eu posso falar sobre, mas não consigo entender as reais dificuldades de um processo se ainda não me propus a experienciar.

Percebi, como instrutora de yoga, que os ajustes que eu propunha aos meus alunos precisavam antes serem testados e compreendidos pelo meu próprio corpo. Caso contrário eu estaria repetindo palavras sem entender a direção delas.

Na vida, acontece o mesmo. Se eu não olho para o meu próprio caminho, e se não me proponho a curar os meus esgotos internos, é muito pouco provável que eu consiga ajudar outras pessoas de forma eficiente. Por isso vale lembrar que todo aprendizado precisa ser experienciado, pois só somos capazes de inspirar e contribuir ara o crescimento alheio, quando crescemos internamente.