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Carol Rache

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Eu achava tão bonito quando me chamavam de “perfeccionista”. Encarava como uma habilidade de quem sabe fazer coisas perfeitas.

Sim, eu tinha a audácia de acreditar que a perfeição era uma meta possível.

Obviamente, todos os meus feitos, por mais bem-feitos, sempre me traziam desconforto. Meu radar interno rapidamente apontava aquele pedacinho que tornava a obra imperfeita, e eu, tola, não fazia ideia de que este era justamente o detalhe que agregava valor.

Passei muitos anos exigindo de mim a tarefa sobre-humana da perfeição. Um ofício que, além de gerar rigidez e frustração, implodia meu senso de estima por mim e me roubava o livre exercício da liberdade de ser humana – e, portanto, imperfeita.

Custei a compreender que o perfeccionismo é uma versão maquiada da prepotência. É uma tentativa secreta de nunca falhar e de ser percebido como alguém acima da média.

Uma estratégia eficiente para angariar aplausos, reconheço. Mas que, por outro lado, nos faz sentir impostores. Porque, ainda que o mundo não descubra nossas falhas, internamente sempre teremos consciência delas.

Enquanto eu não havia me atentado para o real significado da palavra “autoestima”, ainda acreditava que receber validação externa era o que me faria sentir valorosa. Aos poucos, fui observando que, na mesma medida que as palmas inflavam meu ego, as críticas destruíam meu autoamor. Uma péssima troca.

Foi só quando desisti de ser perfeita que comecei a apreciar a imperfeição alheia. Comecei a dar mais valor para uma verdade confusa do que para uma mentira coesa. Comecei a aplaudir aqueles que têm coragem para assumir a própria vulnerabilidade.

E finalmente compreendi que, se a arte imita a vida, é no detalhe imperfeito que mora a autenticidade da obra.

Quanta energia gastamos tentado corrigir nossas cicatrizes. Quanto esforço para tapar nossos buracos quando, em suma, é só através deles que a luz consegue entrar. Quantas histórias contamos para tentarmos ser percebidos como mais prontos, coesos e perfeitos do que é possível ser. Para quê? Aliás, para quem?

Essa mania de querer impressionar as pessoas nos faz viver atendendo as expectativas delas. E, para isso, inúmeras vezes, deixamos de nos atender. Será que vale?

Quantas partes nossas tentamos empurrar para debaixo do tapete? Quantas vezes tentamos evitar a verdade sobre nós? Falamos sobre liberdade sem perceber que livre é aquele que se dá o direito de ser imperfeito. Tão simples na teoria, mas tão trabalhoso na prática.

Eu demorei. Na verdade, estou em processo. O perfeccionismo ainda me cutuca de vez em quando, tentando desonerar meus projetos, duvidar da minha escrita e, confesso, diante de alguns tropeços, sussurra coisas terríveis e me faz hesitar sobre meu valor.

Felizmente, eu aprendi o caminho que me leva de volta para a minha essência. Não me demoro na tentativa de satisfazer meu ego prepotente, porque dei muita força para outra parte de mim, que, hoje, em vez de sussurrar, grita. E está ali, sempre pronta para me lembrar que errar é humano.

Curioso, né? Crescemos escutando isso, mas cercados de cobranças que nos instigam a maquiar nossas falhas. E a culpa não é da sociedade que nos ensinou a aplaudir vitrines bonitas com interiores bagunçados. É nossa.

Porque, cada vez que nos propomos a arrumar nossa vitrine antes de varrer a poeira escondida sob o tapete, estamos, no fundo, traindo a nossa humanidade para servir à nossa tentativa audaciosa de ser melhor que alguém.